18.2.11

Abrindo o baú das memórias...


Já fui a casamentos muito diferentes uns dos outros, a vários níveis...

Há dias estava a lembrar-me de vários casamentos a que fui quando era criança, e apercebi-me de que muita gente não conhece ou conheceu essa realidade.

Por exemplo, era normal os noivos pedirem emprestado um armazém ou mesmo uma garagem nas redondezas. Arrumava-se tudo e, no caso de ser um local de trabalho (com cartazes e ferramentas nas paredes, com cores não muito bonitas, ...), colocava-se lençóis a tapar.

Havia uma única mesa, que costumava ser em formato de U, com os noivos numa ponta e os pais e padrinhos ao lado. Todas as outras pessoas sentavam-se onde quisessem.

A decoração era à base de flores e pétalas colocadas nas paredes, sobretudo atrás dos noivos, em que normalmente formavam palavras como "Felicidades".
Na mesa, várias cestas de fruta com palitos espetados (que ainda não sei para que serviam) ajudavam a dar cor. Acho que nunca vi ninguém comer dessa fruta, por isso devia ser mesmo um elemento decorativo...
Nessa altura ainda não tinha começado a moda da fruta "recortada", pelo menos naquela zona...

Para cozinhar, havia quem contratasse uma cozinheira ou quem simplesmente pedisse a ajuda de uma vizinha com jeito para a cozinha. E quem é que ajudava e servia às mesas? Pois, isso era algo de certa forma implícito quando havia um casamento. As vizinhas - normalmente solteiras - disponibilizavam-se para colaborar: punham um avental e estavam de manhã à noite a trabalhar. A verdade é que acabava por ser divertido para elas, porque estavam em grupo e era sempre um dia diferente dos outros.
Levavam a comida em grandes travessas que pousavam na mesa, e as pessoas serviam-se à vontade.

Normalmente, para o "primeiro" prato havia filetes de pescada com salada russa e também bacalhau assado no forno. Quanto ao prato de carne, as pessoas podiam escolher entre lombo, cabrito e vitela, que às vezes vinham juntos na mesma assadeira.
Claro que se comia sempre muito e durante muito tempo, e muitas pessoas consideravam isso um dos aspectos essenciais de um casamento (para além da obrigatoriedade de ter bacalhau e cabrito, claro está).

As sobremesas eram depois colocadas na mesa, e incluíam sempre bolo de noz (daquele com cobertura branca e chocolate raspado por cima - eu tinha um certo fascínio pelo aspecto desse bolo, mas nunca o provava!), pudim e bolo de ananás.

Muitas vezes ainda durante a refeição, alguém começava a bater nos pratos e nos copos e toda a gente copiava. Isso era o mote de partida para o beijo dos noivos. Sempre achei que deveriam escolher um momento mais apropriado, mas não havia nada a fazer ;)
É que, a seguir a isso, todos os casais tinham que dar um beijo, e todos tinham "direito" a foto e a um minutinho de fama. E eu estava e ainda estou convicta de que muitos deles apenas se beijavam nesses momentos...

Durante a tarde, havia sempre um amigo do noivo, muito divertido e com jeito para comunicar, que se colocava em cima de uma cadeira e dava início ao famoso leilão da gravata. Pegava então na gravata do noivo e começava a contar umas piadas, na expectativa de que os convidados oferecessem dinheiro quer para que fosse cortada quer para que não fosse cortada. Todo esse dinheiro era recolhido por um ajudante; não era como um leilão verdadeiro, em que apenas o último tem que pagar! ;p
A verdade é que havia pessoas que faziam uma vistaça nesses momentos, estando constantemente a fazer ofertas. O que muita gente não sabia é que algumas dessas pessoas não davam prenda para depois poderem dar o dinheiro no leilão e, para além do aspecto exibicionista, também puxarem pelos outros convidados.
Eu tenho que confessar que ficava extremamente furiosa quando o leilão da gravata começava, não só por não concordar com essa espécie de "exploração" dos convidados, que supostamente já tinham dado a prenda que achavam que deveriam dar, mas também porque me entristecia a perspectiva de cortarem a gravata do noivo que eu, do alto da minha infância, achava uma peça especial ;)

Não me lembro de ter assistido a nenhum leilão da liga, mas é algo idêntico.

Era raro haver baile, e muita gente ia embora ao final da tarde.
Esse podia também ser o momento de saída dos noivos para a noite de núpcias ou para a lua-de-mel, já com o carro "enfeitado" da pior maneira possível.

Os convidados que ficavam podiam normalmente usufruir de um ambiente mais "familiar" e descontraído. Muitas vezes, esse era o momento para irem conhecer a nova casa dos noivos, que não raras vezes ficava num anexo da casa dos pais (pelo menos temporariamente).

Uns meses depois, o casal visitava todos os convidados para mostrar as fotos e apontar as encomendas para o fotógrafo. Imagino o trabalho que deveriam ter!! A verdade é que era uma forma de voltarem a encontrar as pessoas e, possivelmente, de agradecerem a presença no casamento.

______

Não sei se vocês tiveram este tipo de experiências ou outras também interessantes de dar a conhecer...

Eu acho bom recordar e verificar como as coisas mudaram tanto em tão pouco tempo :)

11 comentários:

Maria disse...

Ai...

Já me fartei de rir ao recordar estes casamentos.
Sim, também os que fui quando era pequena eram assim. Deviam ser mesmo todos assim porque lembro-me exactamente de todos estes pormenores.
Ah, e falta a parte em que a noiva tinha de levantar o vestido para mostrar a bela da pernoca.

Pessoalmente estes tempos não me deixam saudades.
Ainda bem que tanto mudou em tão pouco tempo:)
A parte boa de recordar é ver como evoluíram positivamente.

Beijinhos

E? disse...

E beber champanhe pelos sapatos ;)


beijinhos

Anónimo disse...

olá...lembro-me perfeitamente!!!

Já me emocionei um pouco até..tenho mtas saudades da minha infância..por isso!

Eram verdadeiras FESTAS!!! Essa é que essa! Apesar de algumas situações mais ou menos agradáveis era uma alegria! E faz parte da nossa vida e das nossas raízes, eu propria se naquele tempo fosse adulta seria peefeita para dinamizar um leilão ehehehehe!!!

O tempo passa a voar... assustador agora para mim : foi pensar: como será o casamento dos meus netos???

Eles a comentarem como nós: "Ai as pessoas alugavam quintas?! E outro: e que não eram delas lool" ou então: E davam lembranças??? È quase como irem ao nosso aniversário e ainda termos d dar presentes "

a CULTURA DE cada gerção é algo fantástico e em constante mutação!

Adorei o post!!
Beijinhos,
JM

Atena disse...

Thank god, que as coisas mudaram! Lembro-me que odeiava ir a casamentos quando era mais pequena. Hoje, ainda não sou muito fã, mas estão mais engraçados.

Turista disse...

Lembro-me bem destes casamentos-festas. Porque estas eram verdadeiras festas, genuínas e de entreajuda. Tal como disseste, eram as amigas e as vizinhas que faziam o copo-de-água (era assim que se chamava) e o serviam. E no fim o que restava do almoço (porque se casava de manhã, sempre), era dividido pelas várias "ajudantes".
Obrigada por recordares :)

pensativa disse...

Meu Deus, como voltei agora por instantes à minha infância!! Fui a bastantes casamentos assim! Aqui no Algarve havia uma diferença, casava-se na parte da tarde, e então a festarola tinha o nome de copo-de-agua-ajantarado! Não haviam lugares sentados. As mesas tal como descreveste mas com tudo lá em cima,panados, bolos, carnes frias etc. A comida quente era fornecida pela cozinheira e iamos buscar directamente ao tacho!! A festa durava até as tantas, sempre com acordeon pró bailarico!! como tudo mudou ... Ah, uma coisa que me recordo sempre, a decoração: espargo e cravos presos c alfinetes nos lençois que faziam de toalha ...
Obrigado pelo post,voltei 30 e poucos anos atras ... fantastico

E? disse...

Sim, cravos! Era isso mesmo!!

Quanto à designação "copo-de-água", eu achava que apenas se referia a quando era de pé...

JM, eu por acaso acho que a moda das quintas vai passar muito rapidamente. E é engraçado, porque é algo muito português...
Quanto ao leilão, acho que terias muito jeito, sim! ;p


beijinhos a todas

Paulinha disse...

Super engraçado este post!!
Sem esquecer que o bolo das noivas era cheio de andares e decorado com passarinhos e florzinhas! As mesas mesmo em restaurantes estavam sempre decoradas com toalhas de papel, não havia cá atoalhados, marcador de prato ou até mesmo argola para o guardanapo!
Lembro-me bem dessa parte dos beijos, que riso! Também ficava sempre com a sensação que muitos casais que ali estavam só se voltariam a beijar caso fossem obrigados num casamento futuro :)

As mesas eram sempre colocadas corridas e os convidados sentavam-se onde queriam!

Ah! E às uns 30 anos atrás (ainda ñ era nascida mas vi em imensas fotografias, era usual os noivos guardaremm as prendas de casamento (muitas peças de enxoval) numa divisão da casa e cada vez que uma pessoa ia lá entregar a prenda era "obrigada" a ver essa divisão!! Quem tivesse mais prendas é que era bom :)
E à mais uns atrás, era alto gabarito colocar as notas verdinhas penduradas no quarto e fotografadas para registo eterno!

Paulinha disse...

Sem esquecer também que os bancos de trás dos carros iam sempre enfeitados com a melhor colcha branca que a mãe da noiva tivesse! O mesmo acontecia na igreja, ao pé dos bancos dos noivos, e essa toalha estava sempre decorada com botões de cravos!

As noivas todas usavam luvas, de renda ou cetim! Era certinho! Isso e ramos com orquídeas, aquelas mesmas cortadas dos vasos das mães ou avós!

Quando falas também na comida, era certinho que além do bacalhau com puré e a carne assada havia sempre o belo do leitão com batata frita!

E? disse...

Hehehe! Obrigada por teres acrescentado tudo isso! :)
Essa parte das prendas e do dinheiro no quarto eu não conhecia!

E sim, os carros levavam a colcha e por fora tinham sempre um ou mais arranjos de flores e muito tule :)

O leitão tenho ideia que era mais na parte dos frios e que só começou a surgir mais tarde... mas pode depender da zona.


beijinhos

Eulália disse...

O que eu me ri aqui :) Lembro-me disso tudo e de como era constrangedor ver os casados a dar beijinhos, das saladas de fruta servidas em cestos de plástico grandes (daqueles das vindimas) ou em alternativa o ovo estrelado (rodela de ananas com metade de pêssego dentro) e dos bolinhos de côco e de cenoura a enfeitar as mesas! E de, invariávelmente chegar a casa com uma bruta dor de barriga (de tanto comer ou de algo estragado) e de acabar por deitar cá para fora grande parte da refeição lol

Beijinhos

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